Ilhéus capacita agentes de saúde para fortalecer o enfrentamento à violência contra a mulher.
Evento intersetorial reuniu Secretarias de Saúde e Políticas para as Mulheres, Polícias Civil e Militar, MP, DPT e UESC para orientar agentes
Nesta quarta-feira (19), um importante encontro intersetorial para discutir e fortalecer as ações de enfrentamento à violência contra a mulher foi realizado em Ilhéus no Teatro Municipal. O evento reuniu a Prefeitura de Ilhéus, por meio das secretarias de Saúde e de Políticas para as Mulheres, com a participação da Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Técnica, Ministério Público e Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Os agentes comunitários de saúde (ACS) — profissionais que estão diariamente dentro das casas das famílias ilheenses tiveram participação direta no evento.
Para a secretária de Saúde, Sonilda Mello, capacitar esses agentes é fundamental. “Estamos falando de um assunto muito sério, que é a violência contra a mulher, um grave problema de saúde pública. Os agentes comunitários têm o primeiro contato com as famílias e podem identificar sinais de violência física ou psicológica. Eles conseguem acionar as redes de apoio e ajudar na prevenção, para que não tenhamos mais números tão altos de feminicídio na nossa cidade”, afirmou.

A vice-prefeita e secretária de Polít
icas para as Mulheres, Wanessa Gedeon, destacou a força da parceria. “É um projeto incrível. Os agentes entram nas casas das nossas mulheres, identificam situações e agora recebem mais informações e conscientização para fortalecer o enfrentamento à violência doméstica e familiar no município.”
Agentes comunitários: a porta de entrada para a proteção
Os agentes comunitários reforçaram a importância desse preparo.
Para Eurípedes Oliveira Neto, o papel do ACS vai além da promoção da saúde. “O agente que se orienta sobre a importância de combater a violência ajuda toda a sociedade. Nós sabemos dos problemas que acometem muitas mulheres dentro de casa e precisamos estar atentos.”
A agente Rosemery Caló lembra que o ACS enxerga de perto a realidade das famílias. “Estamos dentro das comunidades e vemos muitos casos de violência. Nosso papel é extremamente importante: ouvimos, vemos e observamos situações que muitas vezes ficam ocultas. Não é só saúde, é proteção. Muitas mulheres ainda têm medo de denunciar, mas nós podemos orientá-las e mostrar que elas não estão sozinhas.”
Olhar técnico e segurança pública
A perita oficial criminal da Paraíba, Susyara Medeiros, reforçou que os agentes são fundamentais por estarem próximos das famílias. “Eles percebem comportamentos, condições de vida e sinais que muitas vezes passam despercebidos. Se forem treinados para essa percepção, podem fazer uma abordagem discreta, perguntar se a mulher precisa de ajuda e até realizar uma denúncia anônima.”

A delegada da DEAM, Camila Rocha, ressaltou que muitas vítimas não conseguem procurar a polícia diretamente. “Elas têm medo, vergonha, receio. A polícia não está dentro da casa da mulher — mas o agente comunitário está. Ele é a primeira porta de confiança da vítima. Por isso, precisam ser capacitados, orientados e acolhidos, porque lidam com demandas complexas que também afetam sua saúde emocional.”
A comandante da Ronda Maria da Penha em Ilhéus, Capitã Priscila, reforçou que os agentes enxergam situações que a força policial não vê. “Eles estão diariamente nos lares e compreendem realidades que não temos acesso. Por isso, precisam conhecer a rede de enfrentamento e saber como orientar e encaminhar essas denúncias.”
Integração entre segurança, saúde e educação
A perita criminal oficial do DPT de Ilhéus, Carla Martins Kaneto, pontuou que o evento marca o início de um projeto estruturado. “Nosso objetivo é capacitar agentes a reconhecer sinais de violência desde o início, acolher a mulher, fazer a notificação compulsória e orientar sobre a importância da preservação do local e do exame de lesões corporais. Muitas mulheres registram ocorrência mas não fazem o exame, e isso enfraquece a prova do crime.”
Para a professora da UESC, Dejeane de Oliveira, enfrentar o problema requer união. “A violência contra a mulher é complexa e não pode ser tratada individualmente. Só com uma rede articulada — universidade, segurança, justiça, saúde e sociedade — conseguiremos prevenir e enfrentar o problema. Os agentes são fundamentais porque têm vínculo direto com as mulheres no território.”
por ASCOM SESAU




